22 de mar. de 2018

AGRICULTURA INDÍGENA

As formas de produzir e a agricultura tradicional do povo Apinajé, que habitam na região Norte de Tocantins

 A unidade produtiva do povo Apinajé é a família extensa, dessa forma na hora de realizar serviços nos roçados, todos os membros da família (com exceção das crianças pequenas e idosos) participam. Os homens fazem os roçados. Os serviços de plantar, limpar e colher são tarefas predominantemente femininas, mas os homens também ajudam nestes trabalhos.

No final do período chuvoso entre os meses de maio a julho organizamos mutirões para realizar serviços de derrubada do mato. Após algumas semanas o mato seco é queimado para preparação do terreno. Após a queima do mato, os homens munidos de machados, foices e facões realizam os serviços de coivaras, cortando e ajuntando os pedaços de troncos, galhos e folhas remanescentes para serem queimados, assim fica pronto o terreno para o plantio.


O plantio ocorrem no início da estação chuvosa, no período que vai de outubro a dezembro. As próprias lideranças mulheres tratam de organizar as mutirões para realizar os serviços. Um dia antes uma ou duas lideranças femininas saem de casa em casa convidando as companheiras do mesmo círculo familiar ou vizinhas próximas para ajudar no plantio e limpeza das roças.

Geralmente as mutirões para realizar serviços na roça ocorrem dias após o recebimento de salários, aposentadorias e benefícios do Programa Bolsa Família. Se uma família é influente e bem articulada consegue reunir 30 trabalhadores (as) ou mais, por dia na mesma roça. Nos intervalos são servidos café aos trabalhadores (as) no local de trabalho, nesses momentos alguns contam histórias e outros comentam sobre questões da atualidade das aldeias.
  
Ainda cultivamos uma grande diversidade de espécies leguminosas, tubérculos e frutíferas. As mais importantes são mandioca, batata-doce, macaxeira, milho, feijão, arroz, fava e banana, que são plantados juntos no mesmo roçado, deixando espaçamento entre cada planta. Os serviços de limpeza tem início após a plantação completar um ou dois meses. As vezes antes de plantar é necessário fazer uma carpina rápida. Para limpar nossos roçados, além das foices, facões, enxadas, rastelos, as vezes usamos ainda o fogo. Nunca usamos herbicida ou pesticidas, que são conhecidos como agrotóxicos, nas plantações.
A colheita acontece entre 3 a 6 meses após o plantio. No caso da mandioca somente depois de 18 meses ou mais está pronta para ser colhida. No dia da colheita as mulheres chefes de famílias donas das roças convidam suas parentelas e vizinhanças para colheita. Tudo que a pessoa consegui colher leva para casa. Assim acontece nas roças seguintes. Em todos os momentos de mutirões seja para limpar, plantar ou colher, a própria dona da roça prepara e oferece a alimentação aos trabalhadores.



A colheita da mandioca é um processo mais demorado pois depende de uma estrutura especifica para fabricação da farinha. As casas de farinha são locais aonde a mandioca é processada e transformada em farinha, polvilho ou beiju. Nossas famílias costumam ficar semanas envolvidas no processo de arrancar, raspar, ralar, prensar e torrar a farinha. Depois de pronta o produto é distribuído entre os membros da família e o excedente é comercializado nas cidades próximas.

Nossas roças são diversificadas, sustentáveis e familiar. Ainda geram renda, conhecimentos e renova a flora das capoeiras aonde são implantadas. Algumas espécies da fauna como periquitos, jaós, macacos, caititus, pacas, capivaras e outros roedores são atraídos e vem se alimentar nos roçados, aonde são caçados e abatidos servindo de alimentação para nosso povo. Os produtos que plantamos e colhemos são saudáveis, livres e independentes de agrotóxicos.

O cultivo de roças tradicionais, é uma forma de guardar e conservar a diversidade de sementes tradicionais ou crioulas, importantes para biodiversidade, e para Segurança Alimentar e Nutricional dos povos tradicionais e camponeses. As sementes de batata-doce e mandioca guardadas pelos povos indígenas durante séculos são exemplos concretos.

Em 1985, um Programa da antiga CVRD (atual Mineradora Vale) tentou introduzir a pratica da mecanização na TI. Apinajé, mas não deu certo, pois depende de maquinário, adubos e outros itens que encarecem esse sistema produtivo. A mecanização também degrada o meio ambiente e não permite plantio de diversidades. Atualmente na maioria das comunidades são cultivadas roças de toco no sistema tradicional. Nosso desafio é fazer frente a esses retrocessos e continuar lutando e praticando nossa agricultura familiar, sustentável, livre, saudável e diversificada.  




Terra Indígena Apinajé, 22 de março de 2018

Associação União das Aldeias Apinajé-Pempxà

Um comentário:

  1. LINDOOOOOOOO!!!!!! os povos, unidos, dão À VIDA o sentido! os sentidos as culturas a sabedoria!

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