LUTO: MORREU DOM TOMÁS BALDUÍNO
Dom Tomás, presente na II Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins. (foto: Laila Meneses/CIMI. Maio de 2013) |
Nasceu na cidade de Posse (GO), em 31 de dezembro de 1922 e estava com
91 anos. Seu nome de batismo era Paulo Balduíno de Souza Décio. Com muita ousadia e coragem em 1972 em plena
ditadura militar fundou o Conselho Indigenista
Missionário e mais tarde em 1975 a Comissão
Pastoral da Terra. Dom Tomás fez opção entregando a sua vida pastoral em defesa
das causas sociais e dos direitos dos povos indígenas e dos trabalhadores rurais
e camponeses. Nos anos 70 e 80 o religioso fez oposição direta à ditadura militar e sempre questionou
o agronegócio e suas consequências, durante “os anos de chumbo” nunca se curvou
diante da prepotência dos ditadores e nem se intimidou com a violência promovida pelo latifúndio. Por ocasião do processo constituinte, participou ativamente das articulações no sentido que os direitos dos
Povos Indígenas fossem reconhecidos e garantidos na atual Constituição Federal do Brasil, que foi promulgada em 88.
No seu aniversário de 90 anos de vida estava presente participando da Assembleia de 40 anos do CIMI realizado
em Luziânia (GO) em dezembro de 2012. No ano passado na II Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins que
aconteceu em Palmas (TO), Dom Tomás marcou presença e como sempre, estava
bastante alegre e animado participando das atividades.
Em 04 de novembro de 2013 foi internado em hospital na cidade de Ceres-GO e no dia 07/11 foi transferido para Hospital Anis Rassi em Goiânia (GO),onde
esteve hospitalizado por dez dias.
No último dia 14/04 foi internado novamente no Hospital Anis Rassi em Goiânia onde ficou hospitalizado até o dia 24/04. Em 25/04 voltou a ser internado, desta vez no
Hospital Neurológico de Goiânia (GO), não resistindo um Trombo embolia
Pulmonar e foi a óbito na madrugada de sábado dia 02/05/14.
CELEBRAÇÃO FÚNEBRE
Na Catedral de Santana na cidade de Goiás, ritual indígena para Dom Tomás. (foto: Jucilene G. Correia/Cimi GO TO. Maio 2014)
|
No dia 04/05 o corpo foi velado na
catedral de Goiânia, sendo depois transladado para cidade de Goiás (GO). Na tarde do
dia 05/05, segunda-feira na catedral local, Dom Tomás foi
homenageado com ritual indígena realizado e oferecido por representantes dos
Povos Apinajé, Krahô, Xerente, Carajá Xambioá, Tapuia e Tapirapé. Naquele momento
também foram lidas dezenas de mensagens de pesar enviadas por amigos e
companheiros de todas as regiões do Brasil. Dom Erwin Krautler Bispo de Altamira (PA), e presidente do CIMI, enviou carta lembrando os momentos e ações missionárias que realizaram juntos aos povos indígenas Xikrim do Bacajá e Kayapó no Sul do Pará.
A noite foi rezada missa solene
pelo Bispo diocesano local. Na ocasião algumas lideranças indígenas e não índios enfatizaram a trajetória, a caminhada e a luta do religioso em defesa dos índios,
dos Sem Terra, dos Sem Teto, das Quebradeiras de Coco, dos Pescadores e
Extrativistas. A líder indígena, Gercília
Krahô do Estado do Tocantins, afirmou que: “Dom Tomás foi um homem bom que se preocupou e cuidou dos
empobrecidos, excluídos e oprimidos”.
Dia 06/05, segunda feira
pela manhã continuaram as homenagens, oratórias e testemunhos da vida
missionária e pastoral de Dom Tomás. A senhora Laudovina Pereira, coordenadora
do CIMI GO/TO, disse que Dom Tomás foi uma pessoa do bem, um grande amigo e
companheiro e que seu exemplo continuará vivo e nunca será apagado de nossas
memórias. Ao meio dia depois de missa solene que durou duas horas, o corpo de
Dom Tomás, foi sepultado na catedral de nossa senhora de Santana na cidade de
Goiás (GO). Conforme os usos e costumes dos povos Apinajé e Krahô, em agosto próximo será realizado celebração religiosa na Aldeia Nova do povo Krahô, para encerramento do luto indígena.
GRATIDÃO
Amigos se despedem de Dom Tomás. (foto: Antônio Veríssimo. Maio de 2014) |
Durante mais de 50 anos de sua vida missionária e pastoral, Dom Tomás
sempre levantou sua voz forte e sábia para questionar e combater todas as
formas de violências, de escravidão, de opressão, de tortura, de exclusão social e de exploração. Para os povos Indígenas, a passagem de Dom
Tomás renovou nossas esperanças e fortaleceu nossas lutas. Para nós, Dom Tomás foi
e continuará sendo um varão bom e justo, enviado por Deus e esperança dos
injustiçados, um cidadão de princípios cristãos, de atitudes revolucionárias,
de caráter firme, de postura ética, um benfeitor da humanidade, um homem
honrado que cumpriu sua missão terrena, um ser humano que participou da vida
social e politica do Brasil sem se deixar contaminar pela corrupção, um ativista
e guerreiro da paz, que por sua caminhada e luta em defesa dos Direitos Humanos ficou reconhecido e
respeitado no mundo inteiro. Somos gratos à esse homem que viveu com intensidade e plenitude sua vida dedicada aos povos oprimidos do Brasil.
Terra Indígena Apinajé, 07 de maio de 2014.
Associação União das Aldeias
Apinajé-PEMPXÀ
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